Poiésis

segunda-feira, março 29, 2010

Cinderela : Um conto às avessas

Era uma vez uma menina. Bonita? Hum... chamada Cinderela. Menina mal amada por sua família. Família esta formada por duas irmãs megeras e uma madrasta. Família que não é a de sangue, mas postiça, emprestada mesmo! E que desejava muito ir à festa pomposa do magnata Marcelão que ia acontecer na cidade, pois este estava a procura daquela que fosse a princesinha de seus belos olhos e coração.

Enquanto isso, em sua casa, como sofria a pobre da Cinderela! Sua família era cruel, tratava a coitadinha com desprezo, pois apesar de ser apenas só um pouquinho feinha, só um pouquinho quatrolho, estrábica e narigudinha, no fundo possuía um carisma e bom coração... Bem, isso, às vezes... Nem sempre.

Suas irmãs de tanto comer porcarias na rua e em casa, e de passar horas a fio em frente ao Orkut e MSN, ficaram extremamente sedentárias e troncudas. Não! Troncudas não. Gordas mesmo!

Cinderela não possuía folga, trabalhava demais. Vivia triste e solitária. Tinha que fritar vários pasteizinhos por dia, passava horas pilotando o fogão e esfriando a sua barriga no tanque. Isso era uma rotina terrível. Seus cabelos eram duros, encaracoladinhos e presos - alguns fios, ás vezes, se soltavam e arrepiavam em volta do rosto, deixando a sua face parecida com o sol. Eles eram fios rígidos devido a tanta gordura que subia a cada salgadinho frito para o deleite de suas irmãs. Mas, mesmo assim, como eu disse, Cinderela tinha lá seus encantos.

Na noite do grande baile , Cinderela, ou melhor, Cindy - Cindy para os íntimos - estava tristonha. Sua madrasta a fizera trabalhar dobrado na cozinha e no trato para com as outras irmãs:

- Cinderela! – Gritava a irmã mais velha - Largue de moleza, sua lesma! Venha depressa me ajudar com os meus sapatos!

- Pinte os meus cabelos, Cinderela! Depois quero que desencrave e faça as minhas unhas dos pés, e limpe também as minhas micoses! Escove e passe meus treze vestidos de gala, pois vou escolher com qual deles eu ficarei lindíssima para a festa. Ah, mas o magnata Marcelão... Esse sim, não há de resistir aos meus encantos... E ande rápido com isso, lerdeza! - dizia a irmã mais nova para a borralheira.

O magnata Marcelão era o sonho de consumo de qualquer mulher. Era moreno, lutava jiu-jitsu, boxe tailandês, judô e caratê. Era um homem bombado... Saradão!!

Mas o que mais chamava a atenção da mulherada e que todas elas se derretiam era a sua boca, sua boca sedutora parecida com a do cantor Wando. Um arraso de homem!!

Enquanto isso, Cinderela não tinha um vestido, um sapato, nem mesmo um perfume Avon que a pobrezinha pudesse disfarçar o cheiro rançoso de sua pele e cabelos engordurados. Mas para se vingar, Cinderela - Cindy, a minha amiga do peito - ao lavar as privadas das suas irmãs, usava suas escovas de dente, passava em cada cantinho do vaso sanitário, jogava uma leve aguinha e, por fim, guardava novamente como se nada tivesse acontecido às escovas. Mas Cindy... Cindy não era uma menina má. Isso era apenas um pequeno gesto para tentar aliviar a sua tensão e se vingar da crueldade da sua família.

Foi então que, quando viu as megeras saindo para o baile, ela se lamuriou pelos cantos da casa. Ela também queria muito ir nessa festa, no grande baile e conquistar o magnata.

“ Essa festa sim, seria uma boa hora para eu me livrar de vez desse encosto de família!” –Pensava Cinderela.

-Estou tão, tão cansada... Só mesmo um anjo para atender esse meu sonho, porque todas as moças da cidade estarão lá e, uma delas, será a sortuda a ser escolhida pelo magnata Marcelão, o herdeiro!

-E aquelas víboras das minhas irmãs saíram e não me deram, nem sequer me emprestaram um vestido para ir ao baile!

Só que de repente, do nada, um barulho é ouvido. Surge em sua frente, em meio a muita fumaça branca que cheirava a álcool, uma pessoa; alguém que iria ajudar Cinderela a realizar o seu grande sonho de menina moça.

- (hic!) Oxiiii...! Ó xente, bichim! Ó meu Padim Ciço!! Eu queria (hic!)... Eu só queria saber só de uma coisinha. Quem foi o infiliz que me fez sair de lá do meu bem bom até aqui (hic!)- Resmungou o ser que parecia vir do além.

Cindy, assustada com o que surgira em sua frente, perguntou admirada:

- Quem é você?! E que aparência horrível você tem!! O que está fazendo aqui?

- Ó xente! – respondeu com fúria - Num tá vendo que eu sou seu fado madrinho, ora?! (hic!)

Cinderela, nesse momento, deixou a vassoura cair de sua mão, arregalou os olhos e boquiaberta perguntou:

- Fado madrinho?! E bêbado? Fedendo a cachaça ainda por cima?! É o meu fim!

Enquanto ela falava, o madrinho, com seus olhos também arregalados, parecia não acreditar no que estava a sua frente. Não parava quieto, parecia o próprio boneco João bobo e dizia para a moça enquanto se balançava em seu próprio eixo:

- Mas tu é feia, vice? (hic!) E eu já vou logo dizendo minha filha, faço até alguns milagres, mas não me chamo Pitanguy!

- Mas tu é feia, heim? Vou te contar... – continuou ele falando com a caninha embaixo do braço e o copo na mão:

- De que inferno te tiraram, minha filha? Ó meu Padim Padi Ciço – se lamuriava o madrinho - Que inferno é esse que tu me mandaste, sô?!

A moça respondeu embravecida:

- Ah! Não seja imbecil, seu insolente! E você o que é? Um bêbado, isso sim!

Com a língua que mais parecia estar pesando na boca, respondeu o madrinho:

- Vixi, menina! Mas o fado aqui, daqui a pouco estará curado. Não se preocupe não? De qualquer modo, vou resolver (hic!) seu caso, vice? Não fique avexada assim não, minha bichinha. Você não quer ir ao baile para conquistar o boca de Wando? Então se prepare, porque você se tornará uma nova mulher em poucos minutos. Vou realizar o seu desejo e é agora! (hic!)

De repente, o madrinho ajeita o copo em sua mão, enche de cachaça e rapidamente joga em cima de Cinderela.

- Hãm?! Mas o que é isso, seu louco embriagado? Olha só o que você fez?! Você só pode estar brincando comigo!

- Calma. Calminha, ó xente! Daqui a dois minutos você verá a transformação. E não se esqueça que esse encantamento só vai até a meia-noite, depois disso, já era minha filha! Voltará a ser o mesmo filhotinho de ET dos infernos de sempre! (hic!).

Passado dois minutos...

- Ó meu Padim Padi Ciço! Eu sabia que o seu afilhado aqui podia contar contigo, meu Padin! (hic!) Viu? Você tá uma belezura, minha filha! Não vai ter boca de Wando que te resista! - Disse o madrinho, feliz e agradecido.
Cinderela não acreditava no que lhe havia acontecido. Olhava-se várias vezes no espelho e não acreditava em como se tornara tão linda. Seus cabelos agora se tornaram lisos e longos até a cintura. Trajava um belíssimo vestido vermelho que revelava uma bonita silhueta que ela não tinha. Finalmente, agora sim ela poderia ir ao baile e desbancar as suas irmãs megeras. Elas iriam morrer de inveja da sua beleza. Cindy, a minha amigona do peito, estava linda.

- Então, agora vamos! Já estou pronta e radiante! Mas... – disse ela, pensativa- Só está faltando uma coisinha... Como iremos ao baile? Não temos nada que nos leve para o baile agora? Faça alguma coisa madrinho! E rápido! A hora já está avançada e não terei muito tempo para a festa.

Então o madrinho parou um pouquinho o seu ritmo de boneco João bobo para pensar, só que não conseguiu, pois foi logo tombado para o lado e quase caiu. Até que, finalmente, surgiu uma idéia:

- Vixe Maria! Valhe-me deus! (hic!) Por um acaso você não tem um jerimum em casa, não? Preciso de um jerimum, vice? Ele será a nossa tábua de salvação! Vou transformá-lo em uma linda carruagem. Mas preciso dele agora!

Cinderela saiu desabalada a procurar em toda a cozinha por uma abóbora. Abriu todas as gavetas das três geladeiras e todas as portas das dispensas, e nada de abóbora. Desesperada, disse para o fado madrinho dar o jeito dele. E assim, depois de muito pensar, ele teve uma idéia.

- Já sei. (hic!) Não tem outro jeito, minha bichinha... - Dizia ele olhando tristemente para sua garrafa de cana - Vou ter que transformar você em uma linda carruagem. Não tem jerimum, então, vai tu mesmo minha velha companheira de guerra!(hic!)

De repente, fora de casa, depois dele pronunciar algumas palavras olhando para a garrafa, eis que ela se transformou numa... Numa... Numa carruagem... É, digamos assim.

- Hãm?! Fado Madrinho! Mas o que é isso que está em minha frente?? - Perguntou Cinderela desesperada - Eu não vou ao baile com isso! O que vão pensar de mim?

- Ora cabritona! Largue de frescurice ! E você queria mais o quê? Casa que não tem jerimum só podia dar nisso mesmo! E olhe, ta muito é bom!(hic!) E vamos simbora pro baile que já estou perdendo a paciência.

-Mas isso não é uma carruagem, isso é um, um ... Um Rural! Um carro Rural! Eu não vou ao baile com isso é nunca! - falou Cinderela decidida.

O fado embravecido retrucou:

- Oxiiii...! Mas olhe! Veja só isso, minha nossa?! Tá reclamando do quê, coisinha?! Oh mulher desmilingüida! Pois fique sabendo que esse é o melhor de minha terra! Então largue de bestagem e entre logo nessa joça, antes que eu perca a minha paciência e te deixe aí de uma vez. E vamos simbora gambada! (hic!) Que a Rural vai arribá!

- Ande, entre logo Cinderela! Eu mesmo dirigirei essa belezura. E não se preocupe, pois quem tá comigo, tá com Deus! (hic!)

E partiram os dois ziguezagueando pela rua afora até chegarem à mansão do Marcelão. E chegando lá, todos os rapazes se admiraram ao ver Cindy, digo, Cinderela. Ela era realmente a mais bonita da festa, todas as mulheres que ali estavam invejavam a sua beleza. Sua família postiça não conseguiu reconhecê-la. Marcelão, boca de Wando, quando a viu não queria saber de outra moça para dançar, só queria ficar, estar na presença dela. Enquanto isso, na festa, já cansado de esperar no carro Rural, entra o fado madrinho para tomar umas cervejas, pois estava seco fazia horas. Ao entrar porta adentro no salão, madrinho não se contém no que vê e, revoltado, diz embravecido:

- Ó meu deus!(hic!) Ó meu Padim Padi Ciço! Acabe logo de vez com essa missão que eu quero mais é voltar pra minha terra! Oh raio de povo feio é esse aqui, minha Vige Maria.
Oh festa pra ter baranguete! Descunjuro. Expia só mais isso! Desse lado da sala tudo boiola, (hic!) do outro lado, só corno. Quanto desgosto meu Padin Ciço...

De repente um cidadão se levanta de umas das mesas e se revolta com aquilo que acaba de ouvir do fado madrinho:

- O quê? Quem você pensa que é? Eu não sou corno, não!

- Então seu boiola, passe para o ouro lado da sala! - Disse o madrinho cambaleando nas próprias pernas.

Irritado, aquele homem sentindo-se ofendido, desabotoava o punho da blusa e arregaçava as mangas para um confronto com aquele bebum:

- Oh meu senhor... - Disse o rapaz sobressaltado, mas não conseguiu terminar sua fala, pois foi logo interrompido pelo madrinho.

- Meu senhor, não!(hic!) Eu não sou seu, coisa nenhuma! Assim você está me ofendendo. Eu sou é macho ! Mas eu não tô dizendo minha Vige Maria?!

Enquanto os dois discutiam, as mulheres, histéricas, começaram a cercar o magnata Marcelão exigindo-lhe que dançasse com elas também, pois ele só tinha olhos para Cinderela. Mesmo assim, elas não se contiveram e começaram a gritar num ataque de nervos por aquele que seria o herdeiro, o homem da vida delas. Porém, em meio a muito tumulto e histeria, tocou doze vezes o badalo do relógio, deu meia –noite e Cinderela precisava fugir dali de qualquer jeito. Mas o Marcelão... Ah, o Marcelão... Segurava a moça em seus fortes braços morenos e saradões.

- Não, me largue! Preciso ir agora para casa! Por favor, me solte!

- Mas porque tanta pressa? Não está gostando da festa e de estar comigo, doçura? – Falou o magnata com toda sensualidade, projetando aqueles lábios de Wando à medida que ia se aproximando da face de Cinderela, fazendo com que ela percebesse, de longe, um leve mau-hálito.

Com muito custo, Cinderela consegue se livrar dos braços daquele homem sedutor e corre para o Rural que estava estacionado em frente, enfeando a mansão. Só que, infelizmente, era tarde demais. No carro ela voltou a ser a mesma borralheira que era antes, e o carro, este se transformou na velha garrafa de pinga. Ficou espantada, triste a coitadinha. Tentou se esconder atrás de uma árvore frondosa que havia naquele imenso jardim. Escondida, ao olhar para o seu pé, se lembrou que deixara um dos seus sapatinhos de verniz cristal no salão quando saíra correndo. Até que lhe veio na mente uma idéia. Pediu para o fado madrinho voltar à festa e pegar o sapatinho que lá havia deixado. O fado, por sua vez, reclamou por demais, mas resolveu atender o pedido da borralheira.

Enquanto isso, no salão, se encontrava Marcelão rodeado de mulheres. Todo ele era de uma tristeza e desconsolo só devido ao sumiço repentino da princesinha dos seus belos olhos e alma. No entanto, andando pelo salão, enquanto inspecionava a criadagem e os convidados, o mordomo achou um sapato e entregou ao magnata para ver se ele reconhecia aquela peça de vestuário.

- Senhor? - Interrompeu o mordomo Alfred os pensamentos longínquos e triste do seu patrão.

- Sim, Alfred. O que você quer? O que é isto que está na sua mão? – Perguntou Marcelão com uma voz cansada de tristeza.

- Esse sapato, Senhor. Acabei de encontrar no meio do salão. Não seria ele o sapato da dama que estava o tempo todo ao seu lado na festa?

Nesse momento, depois de expulso do salão pelos seguranças, entra o madrinho bebum porta adentro, cambaleando nas próprias pernas. Entra tão rápido e o corpo tombando para o lado que chega a esbarrar na mesa de mármore que quase caiu.
- Vixiii...!! Calminha aí! Não me empurra, não!(hic!) - Dizia ele olhando para a mesa que há pouco esbarrara.

Nesse momento o fado resolve se aproximar do magnata e do seu mordomo para ouvir a conversa, pois ali bem perto tinha na mesa uma garrafa de uísque escocês.

- Oxiii...! Obrigado, meu Padin! Até que a missão não é tão infernal assim, minha Virge Maria! – Feliz dizia o bebum já com a garrafa na mão.

Enquanto isso, Marcelão, continuava a conversar com o seu mordomo Alfred.

-Traga aqui, Alfred, esse sapato. Não me lembro de tê-la visto dançar com ele.

- Bonito não Alfred? Mas que sapatinho mais lindo! – Admirou-se grandemente, e como sorria o magnata boca de Wando ao pegar e ver o sapato brilhante em suas mãos.

- É sim, Senhor. É lindo mesmo, e como brilha!

Mas o magnata ficou tão admirado, mas tão admirado com tamanha beleza e brilho radiante daquele belíssimo sapato vermelho, que não mais resistiu, não conseguia suportar e resolveu atender a sua angústia interior que corroia demais a sua alma.

- Alfred, por favor, retire o meu sapato, pois vou experimentar esse lindo sapatinho - ria o magnata por satisfazer seu sonho com tamanha beleza daquela peça de vestuário.

- Ohhhhh... !!! - Ovacionou toda a mulherada, histérica e frustrada após ouvir o desejo do Marcelão.

Nesse momento, o madrinho que estava dormindo e babando, deitado na mesa bem próxima da reunião, após ouvir aquilo do magnata, de repente levanta a cabeça para olhar aquela cena e, logo em seguida, grita com sua voz mole de tanto que bebeu:

- Oh, meu deus! Que esse mundo só pode mesmo tá é no fim! Mas que desgosto, meu pai! Bem que eu percebi que esse cabra tinha uma vontade de ser homi! Oh, terra de ninguém meu Padin Padi Ciço! Descunjuro! - Dito isso, se benzeu.

Lá fora, no jardim, Cinderela disfarçava e espiava em umas das janelas da casa o que estava havendo no salão devido a tanto alvoroço das mulheres que gritavam histéricas.

- O que você está fazendo aí parada, mocinha? A festa já começou faz horas! Porque não está com seu uniforme? Deixe de moleza! Vá para a cozinha, se arrume e trate logo de servir os convidados! – Furioso, indagou Alfred a Cinderela, não a reconhecendo.

Ela, muito atônita, porém aliviada, dizia baixinho para si enquanto espiava a festa da janela:

- Mas que papelão, heim... Seu Marcelão? Olha só no que eu iria amarrar minha égua?! E eu crente, crente que iria me dar muito bem nessa vida... É, nem tudo que reluz é ouro!

Enquanto isso, lá na festa, todos embalados por luzes cor de neon e rosa - choque que não paravam de piscar, dançavam freneticamente ao som da música “I Will Survive”.

As mulheres em pleno ataque de nervos e inimigas mortais, após a fatídica revelação do magnata Marcelão, fizeram as pazes e começaram também a dançar. Por sua vez, Marcelão, dançava, e dançava requebrando aquele corpo marombado até o chão. Estava se sentindo radiante com o seu colar de plumas pink e sandálias plataforma que há muito tempo escondera no armário. Sentindo-se a própria “Priscila, a rainha do deserto” e muito bem acompanhado com o fado madrinho, o magnata não parava de se requebrar. E todos dançaram, e dançaram, e beberam a noite inteirinha. E foram felizes para sempre.

Autoria: Simone Prado.
Conto registrado na Biblioteca Nacional - Escritório de Direitos Autorais- (E.D.A- RJ)

quinta-feira, março 25, 2010

Inquieta

















Deixe isso tudo pra trás
Suas armadinhas e ciladas
Todas elas mal traçadas
Só foram testadas
Contra ti


Seu coração ainda sonha
Mas sonha sangrando
Sangra pelos teus...
Meus erros também
Das muitas palavras
Amargas e frias

Não pouco são as feridas
Feridas que se multiplicam
Multiplicam em mim
Do seu próprio engano
Daquilo que guarda
No coração e te fere
E que parece não mais causar-te
Nenhum espanto...
Acostumou-te com o pranto?

Ó alma linda sim, e inquieta também
Na noite silenciosa, sou eu
É a minha lembrança que te desperta
O desejo de estar ao ao meu lado
Movem em mim as lágrimas
Lágrimas caídas e caladas
Na alegria então compartilhada
Ás vezes pouco, ás vezes rara...
Muito mais rara
Mas que no fundo sabes:
Não estou de todo ausente
Sim, ainda estou aqui
E passeio na sua frente
Sempre estive e
Estarei por muito tempo

Sim, tenho defeitos
Tenho defeitos múltiplos
Defeitos talvez, quem sabe
De um coração carente
De um coração inseguro
De não saber o fim
E nem mesmo o futuro:
Quando perto estou de ti,
Quer-me distante
E quando distante,
Mas próximo estou...
Só quero que saibas
Que nem tudo é incerteza
Ainda guardo em mim
Um pouco de beleza

Não valorize, portanto
A acometida tristeza
Por mim, meus enganos
Por aquilo que te fiz :
Muitos danos...
Quero que novamente te encantes
E que agora não se espante
Na mudança de minha vida
Do meus passos sombrios
Meus passos errantes

Não! Não só por um dia
Nem mesmo por um instante
Porque descobri que amar
É muito mais do que comer
Mais do que simples viver
É valorar cada minuto
Cada segundo da sua presença

É viver para te bem querer
Querer e ser seu amante
Um amante de perto
Um amante constante.

sábado, março 13, 2010

Cantemos o amor!

Essa semana, uma pessoa me disse que não acreditava no amor e que, segundo a opinião dela, "... o amor é como remédio com prazo certo de validade: dois anos!"

Eu acredito no amor. Porém, não acredito num sentimento que pensam e confundem por também achar que é amor: sentimento comodista, teatral e aproveitador, que a todo o tempo maltrata e , ardendo em ciúme exacerbado, possui uma única função: aprisionar. Mas acredito no amor em si , amor para ser vivido e sentido com todo o seu pacote de incertezas, encanto, respeito - acima de tudo-, cuidado e alegria. Ou seja, cheio de vida que nos ensina e nos faz caminhar nesse grande aprendizado. Um amor no seu todo: cantando, vivenciado e poetizado por cada um de nós à medida que o sentimos. Amo viver o amor. Um amor que ora tem ciúmes, inseguro, sofredor por não ser correspondido, ora forte que faz o sangue ferver e que, às vezes, parece cegar. Cegar tudo aquilo que está em nossa volta porque na frente dos nossos olhos e pensamento a pessoa amada ali está. Ou um amor, seja por qual for o motivo, vivido a distância, dolorido de saudade e vivenciado por lembranças. Mas que se diminuir só um pouquinho a dor, o vazio da ausência é logo sentido. Então, há de se nutrir a saudade-presença.
Bem, de um modo ou de outro, ser feliz diante de um sentimento tão nobre.
Então, viva em sua última gota. Cantemos o amor!



Safo, poetisa notável de Lesbos. Seus poemas exaltam o amor em seus belos e singelos versos líricos. Um amor que perpassa o tempo... Sem fronteiras.



domingo, março 07, 2010

Reflexão de Freud a respeito do Poeta

Estava hoje lendo um artigo sobre arte e poesia. Achei interesante essa análise de Sigmund Freud  à respeito do poeta, e quanta diferença em relação ao pensamento de Platão em seu livro "A República". Então, eis aqui:



"Os poetas são aliados muito valiosos, cujo testemunho deve ser levado em  conta, pois costumam conhecer toda uma vasta gama de coisas entre o céu e a terra com as quais o nosso saber escolar ainda não nos deixou sonhar. Estão bem adiante de nós, gente comum, no conhecimento da psique, já que nutrem em fontes que ainda não tornamos acessíveis à ciência"

(Bibliografia: FREUD, Sigmund. Ano 1996, v. IX, p.20) 

Ser grande














É um viver para viver
Cada dia mais e mais.
É deixar um pouco o tempo passar,
Passar e passear aqui dentro
E transformá-lo só um pouquinho.
Deixar se levar
E perceber que no final... Valeu a pena.
É não se conter em si, 
Explodir em coragem,
Um esbanjar de mim.
É não aceitar o comum senso
Para amar o intenso,
E sentir o imenso.
É gastar todas as energias,
Energias até a sua última gota.
É se entregar para crescer,
Para  alma viver e...
Ser gente grande.

quarta-feira, março 03, 2010

Tempus Fugit



O tempo não pára,
Ele passa rápido demais.
Tudo isso enquanto você pensa,
Enquanto você continua pensando...


Olá queridos!

Viva cada dia, colha-o e não deixe para o futuro, pois, se pensarmos bem, a vida se realiza no presente, e esse é o tempo mais certo que temos. O amanhã será sempre o amanhã e pode ser que...  Não estejamos mais aqui, não é mesmo?

“Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.”
- Fernando Pessoa ( Odes de Ricardo Reis)-

Um pouco mais sobre "Tempus Fugit"...

*Estas palavras foram usadas antigamente como rubrica das horas (dos relógios). Tem sua origem nas Geórgicas, um poema em quatro volumes de Virgilius sobre a vida rural. “ Sed fugit interea, fugit irreparabile tempus” (Mas enquanto isso foge, foge o irreparável tempo) . (Publius Virgilius 70-10 a. C)
Georgicas (gr.) também significa “trabalho no campo”
A obra Geórgica não tem nada a ver com tema arcádicos, ou seja,  bucólicos, mas relacionada aos trabalhos no campo escritos sob a ótica poética do autor.
* Fonte: Dicionário de máximas e expressões em latim, p. 124

Fragmentos de Poesias e indicações de músicas que tratam do tema “Tempus Fugit”:

Música:

“O Tempo não pára” –( Cazuza)
"Tempos Modernos" - ( Lulu Santos)
“Resposta ao tempo”- (Nana Cayme). Belíssima , por sinal!!- Não deixe de ler também uma poesia que fiz sobre essa bela canção: “Tenho que aprender com a Nana...”

Poesias:

Gregório de Matos :
"Goza, goza da flor da mocidade. / Que o tempo trata a toda ligeireza / E imprime em toda a flor sua pisada."

Tomás Antônio Gonzaga:
“Sobre as nossas cabeças,/ Sem que o possam deter, o tempo corre; / E para nós o tempo, que se passa, / Também, Marília, morre.”

Fernando Pessoa:
“Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio”
“(...) Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.”

 A vida , assim como o poeta escreveu, é como um rio que passa e não volta nunca mais. Tudo isso , “ ...enquanto você pensa. Enquanto você continua pensando...”


Um beijão a todos !
Espero ter ajudado um pouquinho.

Resenha Crítica do filme 1492- A Conquista do Paraíso

Resenha Crítica dentro de uma abordagem que envolve aspectos relativos ao colonizado e colonizador.
Filme: 1492- A Conquista do Paraíso.
( 1492- Conquest of Paradise. EUA, França, Espanha, 1992)


O filme “1492- A conquista do Paraíso”, de Ridley Scott, apresenta um cenário grandioso e fascinante diante da beleza da nau Santa Maria, das caravelas Pinta e Niña, a belíssima música de Vangelis, a qual permeia todo o filme, além da ousadia de Cristóvão que se transforma em grande líder de uma conquista. Tudo isso dá um aspecto épico a odisséia de Colombo em busca do paraíso que se caracteriza em descobrir um novo caminho, uma nova rota para a Ásia navegada pelo Ocidente. Nesse cenário de expedição ultramarina em nome da Coroa Espanhola, em doze de outubro de mil quatrocentos e noventa e dois, Cristovão Colombo avista a Ilha de Guanani, atual San Salvador.

Há também de se perceber no filme- até mesmo por essa produção fazer parte da comemoração dos quinhentos anos de “descobrimento” da América, e este longa ter sido produzido dentro da ótica americana - o quanto foi maquiada por Hollywood a relação entre Colombo e os nativos americanos. É difícil de acreditar que tamanha expedição tivesse como lema principal levar o povo a Deus. Porém, tal fato, serviu de pano de fundo para que pudesse por em prática os interesses de Colombo que, no filme, não é verdadeiramente mostrado, mas sim um líder benevolente que respeita as crenças e os hábitos dos nativos, punindo somente quando há uma desobediência. O que na verdade não foi isso que aconteceu, nem muito menos o pacifismo entre índios e europeus durou por muito tempo como demonstra; haja vista, em 1511, os relatos de Bartolomeu de Las Casas ante aos tratamentos dispensados aos nativos daquela ilha desde o início, pois os colonizadores possuíam o comprometimento de prestar contas a Coroa Espanhola e , com isso, não podiam perder muito tempo para logo apresentarem as riquezas em ouro e prata daquela terra conquistada.

Apesar da inocência dos índios em se mostrarem encantados com a aparência dos visitantes e considerando- os como deuses, uma vez que estes vinham do mar semelhante ao deus Sol que sumia ao fundo do oceano , o que se tem como relatos históricos é que a condição de colonizado sempre foi impregnada por batalhas sangrentas em busca de riquezas e estabelecimento de poder, e não foi diferente na América. É sabido que para impor uma cultura ou lei a uma determinada civilização conquistada era preciso, muitas das vezes, aniquilar para impor outra ordem. Não havia generosidade. Ainda mais se tratando de índios que, para os europeus, não tinham valor algum, não eram considerados como gente, além da nudez ser vista por eles como algo pecaminoso, o que aumentava ainda mais o abismo entre as duas etnias. Entretanto, quem assume o papel de algoz e ganancioso na ficção é o personagem Moxica, ausentando Colombo de toda crueldade para servir a ideologia de Ridley Scott diante de um filme encomendado para representar o descobrimento da América.

"A conquista do Paraíso" como apoio didático nas aulas de História também se faz interessante, mas nunca se esquecendo que ficção é sempre ficção, ela possibilida ao autor trabalhar com inúmeras possiblidades de criação, portanto, não precisando ser fiel totalmente aos fatos , a realidade.

 Outra coisa interessante que consta no longa é a gravura inicial de abertura do filme. Na verdade se trata de pinturas do artista Theodore de Bry que , no filme, está tingida de vermelho, simbolizando com isso, que a colonização entre européus e índios não foi tão passífica assim.


Dados do Filme:
"1492 - A Conquista do Paraíso"
Título original: (Conquest of Paradise)
Lançamento: 1992
Direção: Ridley Scott
Atores: Gérard Depardieu , Armand Assante , Sigourney Weaver , Loren Dean , Ángela Molina
Duração: 155 min
Gênero: Drama


Sinopse:
A história do navegador Cristovão Colombo, suas viagens, as dificuldades em provar suas teorias e o clima das Grandes Navegações. Realizado em 1992, em comemoração aos 500 anos do descobrimento da América. Filme denso, bem realizado por Ridley Scott e interpretado com vigor pelo francês Gerard Depardieu. O roteiro é de Roselyne Bosh e o consultor histórico foi Jose Corral Lafuente.

Trechos do filme neste belo clip e música!



Um breve Resumo:

 
O intuito do navegador Cristovão Colombo era chegar as Índias por um caminho marítimo que fosse bem mais rápido do que o já utilizado por Portugal, uma vez que este detinha o domínio do comércio marítimo europeu há mais de oitenta anos.

Seu projeto de navegação foi aprovado pelos reis da Espanha, Fernando e Isabel, apesar de ser bem diferentes dos planos utilizados por Portugal. Colombo seguiria sua viagem rumo ao oeste, pois estava convencido de que a Terra era redonda. Nesse sentido, imaginava que chegaria rapidamente ao seu destino, ou seja, as Índias, seguindo seu trajeto em linha reta.

Para convencer os reis da Espanha, Cristovão acreditava que, fazendo esse percurso, encontraria terras e um povo rico em metais e pedras preciosas. Nesse sentido, a viagem, segundo ele, parecia prometer vultoso retorno financeiro a Coroa Espanhola.

Em 12 de outubro de 1492, depois de ter navegado por mais de dois meses, a expedição chegou a uma terra desconhecida, aportando em uma pequena ilha da América Central, denominada por ele de San Salvador.

Américo Vespúcio, posteriormente, realizou também viagens à América e percebeu que o “Novo Mundo” encontrado não era a Índia, mas sim uma nova e grande extensão de terra que recebeu, em sua homenagem, o nome de América.

* * * * * * * * *

Hola!!!!!!!
Vai uma dica artística importante??!!!
Para quem gosta de artes, não deixe de ver e apreciar a belíssima obra  e uma pequena análise crítica sobre Salvador Dalí: "Criança geopolítica assistindo o nascimento de um novo homem". Vale a pena dar uma conferida. É linda a imagem!!!!!!!


Deixe comentários e críticas também!!
Aproveite esse espaço e sinta-se à vontade!!!
Um beijão!!!