Poiésis

quarta-feira, maio 05, 2010

Temos Asas


Onde levo essas letras das muitas esperanças que escrevo, me jogo, me debruço sobre as muitas palavras faladas, escondidas ou silenciosas da alma.


Temos asas

Hoje me chamou a atenção, ao passar pelo jardim, algo que ouvi de certa mulher que ali estava, cuidando das flores com uma que parecia ser sua amiga.
-Você acredita que ontem, na igreja, levei um susto quando senti pousar em mim a esperança?
E pensei comigo: Susto? Susto por sentir a esperança tocá-la?!
E resistindo eu em sair, meio que paralisada pela conversa e ao mesmo tempo não querendo deixar aquele imenso jardim infantil com suas grandes flores que se desabrochavam em cada um dos pequeninos rostos, não tive outra opção senão seguir a razão do dia.
E de repente, andando pela rua, parei surpresa com a cena que vi, não pude conter uma grande decepção:
- Meu Deus! O que é isso? Como pode acontecer? Uma esperança, caída no chão frio de concreto como que morta! Como deixaram?
Passam por ela e não a enxergam.
E quando se dão em si e a contempla, são como que paredes.
Mas, pensando bem, estão como que mortas, desfalecidas, como que caídas dentro de seus abismos que as consomem.
Será que não lhes faz mais sentido?
Até que meio de repente fui acordada de meus pensamentos, uma criança passa e se admira:
-Olha mamãe, uma esperança!
Pude sentir em sua voz a alegria.
E com um grande puxão em seus braços a mãe disse andando apressada:
-Vamos menino! Não está vendo que está morta!
Então, com um giro rápido, ele tenta se soltar e, conseguindo, corre ao encontro da esperança, ele tem noção do que ela representa.
E entusiasmado, diz bem alto:
-Não mamãe! Não está morta! Está viva e se mexeu! Ela ainda tem asas, pode voar.
Então, vi pegar com suas pequeninas mãos, com todo o cuidado, apertando entre o peito e, sorrindo, disse que iria levá-la para casa.
Totalmente envolvida por aquela cena, me vi transportada de alma e coração à esperança. Não a efêmera que é pálida e vazia, que se encontra aprisionada em “cemitérios”, mas... a que tem asas.
E estando ali parada devaneei em muitas coisas.
Pensei na chuva que, quando cai, engravida a terra e o coração de esperança daquele que semeia
E... de repente, pensei naquele menino, e disse comigo:
- Levarei eu também a esperança para casa.
Afinal de contas...
Temos asas, podemos voar.



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