Olá!
Recentemente, participei de um concurso de poesias cuja proposta era elaborar um poema, em homenagem a Chico Buarque, inspirado em alguma canção referente às "mulheres de Chico". Então, escolhi "A Rita". Abaixo da letra, fiz o poema "Para Chico", o qual postei também a avaliação dada por Alfredo Fressia, Oscar Nakosato, Flávio Morgado e Jackes Fux.
A Rita
(Chico Buarque)
A Rita levou meu sorriso
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
E arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor de vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão
Para Chico
(Simone Prado)
, malas
echarpe
são francisco
deixados no chão
entrada –
aparente vazio
habita cômodos
meus passos
(sem pressa)
na sala
o rosto
o verde das íris
o dedilhar no violão
invisíveis
paredes
quarto –
terra estranha:
aqui a guerra
é mais longa
na mão o desejo infinito
sobre a maçaneta de ferro
envelhecido:
bastava um giro
um fechar a porta
virar as costas
e fazer vibrar as cordas
daquele mudo violão
Meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
E arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor de vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão
Para Chico
(Simone Prado)
, malas
echarpe
são francisco
deixados no chão
entrada –
aparente vazio
habita cômodos
meus passos
(sem pressa)
na sala
o rosto
o verde das íris
o dedilhar no violão
invisíveis
paredes
quarto –
terra estranha:
aqui a guerra
é mais longa
na mão o desejo infinito
sobre a maçaneta de ferro
envelhecido:
bastava um giro
um fechar a porta
virar as costas
e fazer vibrar as cordas
daquele mudo violão
Título: Para Chico (Simone Prado)
Alfredo Fressia: Mais um belo poema, criado
sobre uma retórica da fragmentação, do implícito (e ainda o tema da conivência,
colaboração do leitor). Se tudo isto não bastasse, o poema contém também
uma joia, a saber, estes versos perfeitos: “na mão o desejo infinito/
sobre a maçaneta de ferro/ envelhecido:”. Muito bom.
Oscar Nakasato: O poema recupera o sentimento de
ausência e solidão cantado por Chico Buarque. A vírgula no início do poema já
parece indicar que a lista de “coisas” deixadas no chão se estende num
movimento que vai para o antes de “malas”. Há uma confluência de elementos que
indicam esse sentimento: os versos mínimos, o paradoxo “vazio habita cômodos”,
passos sem pressa, invisíveis paredes, mudo violão. Os versos mínimos, aliás,
centrados em substantivos, exploram eficazmente as lições do Cubismo e do
Futurismo. Ao mesmo tempo, o poema proporciona uma ambiguidade: a porta é a
entrada ou a saída?
Flávio Morgado: O poema leva de forma interessante
(na quebra dos versos e no seu “pé ante pé”) a uma narrativa singela, simples.
Mas por que não? Merecedora de poema. Bom poema.
Jacques Fux: Quase uma nova canção. Embala e encanta.
Bonito, certeiro e bem escrito.