Poiésis

segunda-feira, setembro 20, 2010

Samurai de mim...



Um golpe de anos a cada folha revisitada.
Fez de mim samurai... Haraquiri:
Reler palavras suas escritas em papéis desbotados.
Suas confidências, seu planos
E não ter mais escolha...
Cartas aflitas de saudades e sentimentos puros,
E, mesmo assim, poder sentir suas declarações em verso simples, quase adolescente:

... aquela que vejo e quero,
Espero aflito.
Toda cor e paz que sinto,
É no teu abraço que encontro abrigo.

Tenho vontade de correr
Ser mais rápido que o tempo,
Só para te encontra e te amar,
E acabar com esse tormento.

Não haverá noite, lua imensa
Que comporte o amor e alma intensa.
É assim que te vejo
É assim que te sinto
Aflito


Haraquiri -
A cada folha amarelada,
A cada dia que passou comigo,
E de tantas vezes que me calei para te ouvir e aprender contigo.
Sim, me lembro. E como me lembro...
Só ficou um pedaço seu que me faz sentir você,
Sua letra, suas palavras num velho papel junto a mim:
Suas cartas,
Elas já não pesam mais sobre a minha cama...

Você dizia:


 ...não repare na minha letra, sei que ela é muito feia. Mas estou me esforçando... 

Pois você acreditava ser feia e tremida,
O que você não sabia era que, das muitas cartas na caixa de correios que recebia,
Era a sua letra, para mim, a mais bonita.


Sigo a minha linha sozinha.
Um dia, querendo ou não, tudo acaba.

Quando você se foi
As portas se fecharam
E a luz se apagou.




Letra: É hora de partir o coração
(Canção: Guilherme Arantes)

O trem entrou pela manhã
Freando na estação
No ar frio, vapores brancos
Da nossa respiração
Se misturando com a fumaça
E a vontade de chorar
Levei suas malas até o seu vagão
E te abracei em silêncio
Até o ranger das rodas
Começando a andar...

É hora de partir o coração
Sentir saudade de você
Amor...

Me dando adeus pela janela
Essa é a imagem que ficou
Naquela plataforma
Por um tempo que parou
Então fui-me embora
Ganhei a rua
Me perdi na multidão
Enxuguei o choro
Engoli em seco
A tua ausência agora
Meu caminho
É bem mais triste de trilhar

É hora de partir o coração
Sentir saudade de você
Amor...

sexta-feira, setembro 10, 2010

Análise crítica da obra "Criança geopolítica assistindo o nascimento de um novo homem", de Salvador Dalí.

iHola! iBuenos Días queridos leitores!

Hoje resolvi postar um trabalho que fizemos no segundo período do curso de Letras da Univ. Estácio de Sá, Nova Friburgo. Por gostarmos muito de tudo o que se relaciona a esse mestre da pintura, Salvador Dali, procuramos, eu e meu grande amigo Lohan Lage (um dos escritores talentosos do blog Autores S/A) mergulhar na observação crítica dessa pintura fascinante.
Portanto, eis um texto para vocês adentrarem em cada cantinho dessa belíssima obra surrealista. Então, chega de conversa e vamos ao que interessa.
Um beijão a todos!!

Criança geopolítica assistindo o nascimento de um novo homem, 1943 – Salvador Dali 
A pintura surrealista do espanhol Salvador Dali, “Criança geopolítica assistindo ao nascimento de um novo homem”, datada de 1943, receberá, no decorrer desse texto, uma interpretação genuína e minuciosa, tendo alguns aspectos embasados no contexto histórico- social em que esta obra foi realizada.
A escolha deste quadro pode ser justificada pelo nosso interesse pela corrente surrealista. Tal movimento artístico nos possibilita uma série de interpretações repletas de criatividade. Apesar de ir além do real, a historicidade está inculcada em suas representações, o que o torna mais fascinante.

A princípio, utilizamos uma estratégia, a qual denominamos “o primeiro olhar”. Esta prática nada mais é do que a extração da primeira impressão da pintura. Logicamente, nossa percepção inicial não permaneceu estratificada. Foi preciso dispor de uma atenção delicada nos detalhes do plano visual, detectando cada “ser” contido naquela tela. Ademais, observamos alguns traços que determinavam o posicionamento das figuras ali representadas, bem como a harmonia das cores utilizadas pelo pintor.
O próximo passo foi interpretar o motivo da colocação daquelas figuras, assim como suas posturas. De acordo com nossa visão, cada elemento naquele quadro fazia parte de um grande contexto (ainda a ser dito), como se fossem letras que, aglutinadas harmoniosamente, formaria um texto. E o que é uma pintura senão um belo texto imagético?

Já no plano visível, mergulhamos nas entrelinhas daquele texto surreal, permitindo que nossas mentes se afundassem, sem receios, sem limites. O processo de desenvolvimento do cerne da nossa interpretação foi intenso, e muito prazeroso, resultando na leitura dos parágrafos posteriores.

Tomemos como ponto de partida o foco central do quadro: Um planeta Terra aparentemente plástico, cujo meio é rasgado vorazmente por um homem que tenta libertar-se daquela clausura. Sob o planeta, um pano branco manchado por um liquido vermelho que parece ser sangue, causado pela abertura. Sobre o mesmo planeta, um objeto esfíngico e sombrio. Apontando para um dos continentes do astro, um ser aparentemente feminino, tendo a seus pés uma criança que parece muito assustada.

Ilustrado esse ponto, vejamos agora o plano invisível: O artista estaria calcado numa metáfora do nascimento, uma vez que o planeta, denotando um formato oval, assemelha-se ao útero materno. Enquanto o homem, o “ser nascente”, estaria lutando para romper aquela placenta invisível, sem sequer sofrer uma interferência auxiliadora da mãe Terra, haja vista sua deformidade e abatimento.

Observando, pois, a política geográfica do planeta, percebe-se que o homem nasce justamente do continente norte-americano, talvez pela força que ali pulsava – A força capitalista dos Estados Unidos da América.


Aos poucos vamos expondo nossa visão, tentando apresentar a interação de todos os signos do texto imagético. Acreditamos que, a figura demonstrada no lado direito da imagem seja uma mulher, baseando-se em sua ligeira semelhança estética e na criança que se protege em suas pernas. Ela, por sua vez, aponta para o planeta, tal como Deus e Adão foram representados na Capela Sistina, por Michelangelo. Diante dessa comparação, essa figura pode ser constituída como divina, ou, a responsável pela criação da Terra. Ou seja, a própria criadora estaria assistindo a destruição de sua criação. Isso já nos levaria à idéia renascentista, cuja temática principal era a sobreposição da razão humana sobre as questões divinas. Mas não foi nesta possibilidade que mergulhamos a fundo.


Retomando nossa linha de raciocínio, vejamos, agora, sob uma ótica contextual histórica: A suposta mulher aponta, especificamente, para o continente europeu, o qual manteve uma hegemonia político-social até o fim da Segunda Guerra. Diante dessa decadência européia no término da guerra, podemos firmar um contraste em relação ao homem que rompe no continente norte-americano. Esse contraste pode ser caracterizado por dois fenômenos naturais da vida: O nascimento, representado na América, e a morte, simbolizada pela Europa.

Ainda em relação à Segunda Guerra Mundial, nós podemos destacar outro traço marcante na pintura de Dali: No extremo norte do continente africano, observa-se o pender de uma lágrima límpida.


Aquela lágrima representaria a tristeza do mundo envolvido em tão terrível guerra. É válido lembrar que a África servira de palco para muitos combates naquela guerra, afinal, muitos de seus países permaneciam colonizados pelos europeus e americanos.


O sangue que escorre com o processo de nascimento do homem estaria representando as trágicas conseqüências da guerra, aliás, podemos ir mais longe – O sangue mostraria o quanto foi preciso para que aquele “poderoso ser” fosse gerado; quantas lutas, destruições e mortes foram necessárias para resultar no nascimento de uma nova potência mundial.

Na parte inferior do lado direito, observa-se uma criança, agarrada aos pés da suposta mãe. Esta criança, devido a sua aparência de terrível espanto pelo o que vê, proporciona uma série de indagações por parte do receptor.


No entanto, a interpretação mais cabível à nossa linha de raciocínio é a seguinte: A criança teria sido denominada no titulo como geopolítica, pois, devido a todas as atribulações da guerra, a geopolítica mundial estaria sendo fracassada, isto é, precisaria se reformular e nascer novamente. A geopolítica fracassada, representada pela criança, assiste àquele surgimento do novo homem com grande pavor. Além disso, esse pequeno ser figuraria a fragilidade do mundo diante do devastador poder que nasce no Novo continente; um novo homem, (como bem empregou Dali no título da pintura) movido pelos interesses capitalistas. Logo, a criança representaria um mundo refém de toda uma conspiração destrutiva e dominadora que partiria do forte homem, ou forte EUA.

Agora, nos transportando para o plano de fundo da pintura, podemos deduzir que um deserto é o ambiente que abrange todo o foco figurativo principal. No lado direito do quadro, enxerga-se ao longe a figura de uma pessoa, provavelmente acenando um “adeus”para algo.

O que seria? Dentro de nossa concepção, percebemos que possa ser um “adeus” ao poder hegemônico do Velho Mundo, uma vez que a figura está posicionada no lado do hemisfério oriental do planeta Terra, o qual engloba a maior parte do continente europeu, além de outros.

Ainda no plano longínquo da pintura, com base em uma ampliação, observamos, agora no lado esquerdo, uma figura aparentemente vestida de vermelho e preto, o que remete, psicologicamente, à personagem satânica.


Cremos que aquela presença maligna no lado do hemisfério ocidental do planeta Terra poderia ser justificada. Talvez seja porque o surgimento do poder capitalista esteja voltado para os E.U.A. O sentimento capitalista remete a busca incessante do poder, baseada na árdua competição. Essa questão é retratada de forma magistral no filme “O advogado do diabo”, dirigido por Taylor Hackford. Al Pacino, que interpreta o diabo em forma humana, oferece todo seu mundo de belezas e suntuosidades efêmeras a um jovem talentoso advogado, provocando sua vaidade e levando-o para a destruição. Assim estaria representado o capitalismo no quadro de Dali: O próprio Satã.

É interessante apreciar cada objeto dentro da tela, tentando aplicar uma significação àquilo. E assim fizemos em relação ao a uma figura que nos remete a idéia de um obelisco, no canto direito da pintura, ao longe.


Ora, obeliscos eram, no Antigo Egito, representações de poder. Dentro do desenvolvimento da nossa interpretação, essa figura se encaixaria perfeitamente, uma vez em que haveria, incutido no foco central, uma demonstração acalorada da mudança geográfica do poder.

Por fim, analisamos o objeto que parece ser uma tenda, a qual paira sobre o mundo. Algo muito enigmático, considerado por nós o grande mistério da pintura. Nos sentindo como Édipo diante da Esfinge, arriscamos sermos devorados e formamos uma interpretação, na tentativa de desvendá-la, evitando, claro, fugir do que já havíamos nos baseado. Quem sabe não nos coroam como reis, tal qual Édipo ao descobrir o enigma?


Aquele objeto de bordas pontiagudas seria uma representação onírica. Segundo Freud, no seu maravilhoso livro “A interpretação dos sonhos”, sonhos relacionados a cavidades ou a coisas que se abrem como uma flor, estão ligados ao órgão sexual feminino. Já o órgão sexual masculino seria representado por objetos pontiagudos. A cor preta estaria voltada para o negativismo. Ou seja, atentando para aquele dado objeto na pintura, imagina-se essa possibilidade, que “só Freud explica”, como muitos costumam dizer.
Como relacionar essa explicação com o que já foi deduzido? Ora, a pintura está envolta num sentido de nascimento. E nada mais coerente do que a junção de representações oníricas dos órgãos feminino e masculino em uma mesma figura. Figura esta que, por conseguinte, está acima do mundo, como se fosse a responsável pela sua geração. Estaria ela impregnada de um colorido negro e uma aura sombria, pois, devido à destruição causada pelo homem, estaria incidindo em si o reflexo negativo de sua criação.

O artista teria espalhado em sua pintura figuras de significações similares (A mulher criadora do mundo – o objeto que paira sobre o mundo como responsável pela sua criação; o poder representado pela força do homem que rompe do interior do mundo – o poder representado pelo o que aparenta ser um obelisco), assim como, inteligentemente, teria apresentado diversas antíteses, como: nascimento e morte, criança e adulto, o novo e o velho...

Enfim, trata-se de um trabalho genial de Salvador Dali, que permite a concepção de diversas leituras. Nossa interpretação foi reforçada pelo ano em que foi datada esta obra de arte, 1943. Neste ano, ocorria-se a triste Segunda Guerra Mundial, que veio a entrar em desfecho dois anos depois. Para finalizar, um rico acréscimo a nossa interpretação: Uma enigmática previsão do francês Nostradamus, enfatizando, misticamente, essa visão sobre o quadro de Dali. Agora, leitor, cabe a você a reflexão acerca desse mistério além do surreal:
“Ceux qui estoient em regne pour scavoir,
au roial change deviendront apouvris,
uns exilez sans apuy, or n’avoir,
lettrez et lettres ne seront à grand pris.”
“Os que estavam no reino por saberem,
pobres serão pelo cambio Real,
exilados sem ouro nem apoio,
os letrados bem pouco valerão.”

(Centúrias e presságios acerca da Segunda Guerra, Michel de Nostredame).
 
***** Uma observação que  não coloquei no corpo do texto; na verdade, se trata do pano branco que está por debaixo do que podemos chamar de Planta Terra... Entendemos que esse pano branco  simboliza a paz. Paz essa que não se sustenta diante da ganância do homem em sua busca constante de poder e dominação. Paz essa que não cobre o mundo, e que mal sustenta esse mesmo mundo , configurando uma grande utopia que rege as nações; haja vista o sangue que, na imagem, se derrama sobre ela.... *****


Fontes Bibliográficas:

- Shmidit, Mário; Nova história crítica, editora Nova Geração.
-Freud, Sigmund; A interpretação dos sonhos, editora Delta
-Cheynet, Ettore; Nostradamus e o inquietante futuro, editora Círculo do livro
(Geopolitical child watching the birth of a new man - Salvador Dali)