Poiésis

quinta-feira, maio 10, 2012

Plus Tard




PLUS TARD



plataforma –
bengala
roupa engomada
seu chapéu de palha na mão

malas entre abraços
a rapidez dos pés,
o correr das cenas
sob pálpebras apertadas

ansiedade –

velho corpo malhado
embaixo do chapéu de palha
aguardava

. . .

último trem da estação –

filho que não veio.


terça-feira, abril 03, 2012

Tarde


                                               
TARDE




fila 
de
óculos

trajes
pretos

 na grama
molhada,
melancolia
dos pés

 orações – 

homem

olhares

no túmulo
violoncelo –  
Adágio, de Albioni
chorava o filho
                                                                                  

terça-feira, março 20, 2012

Aquela moça...

Oi!!
Mas um belíssimo texto desse escritor sensível que é o Caio Fernando Abreu.

E quem nunca viveu ou passou por isso um dia: Ser importante e, de repente, perceber que não é mais? A questão é saber viver, saber levantar a cabeça e seguir em frente. Um texto desse, de grande qualidade literária, não poderia mesmo ficar de fora do Poesia em Si. É uma temática que, dentre outras, explora os modos de amar e não o medo de amar:
“(...) Ela não desiste e leva bóias, e se ela se afogar, se recupera.”.

Todo o texto é lindo, de grande maturidade e verdade comum a todos nós. Espero que vocês curtam esse belo conto!

Um grande abraço! Um abração!
Si.


        “Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo; se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas: de se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias, e se ela se afogar, se recupera. Estranho é que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta.
          E quem não é? A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas? A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar. Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera? E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará.
          A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros vieram ao mundo.”

(C.F. Abreu)






segunda-feira, janeiro 02, 2012

ADEUS ANO VELHO

,céu
turbilhão
de luzes
 
tilintar das taças
cinco seis
sétima onda de Copa

 . . .

Presidente Vargas –
carros sol
corpo quente
do  ônibus:

uma grávida viaja em pé,
manchete policial
senta no banco da frente,
idoso deixado pra trás

curioso olhar
debruça a janela:

presa na boca de lobo
das ruas do Rio -
sacola
com coloridas letras:
 

feliz ano novo,