Poiésis

terça-feira, dezembro 08, 2015

Florbela Espanca


domingo, maio 24, 2015

La force des choses (Fragmento sobre a velhice)


La force des choses
(fragmento sobre a velhice, na obra de Simone de Beauvoir)


[...] No fundo deste espelho, a velhice me espreita [...] Ela me tem. Muitas vezes me detenho, ofuscada, diante desta incrível coisa que é o meu rosto. Compreendo Castiglione que tinha quebrado todos os espelhos [...] Vejo meu antigo rosto onde se instalou uma doença da qual não vou me curar. [...] A velhice me infecta também o coração [...] A morte não é mais, na distância, uma aventura brutal; ela obceca meu sono; acordada, sinto sua sombra entre o mundo e mim mesma: ela já começou. (Beauvoir, 1963, p.198)























Foto de Pierre Louis Pierson: Condessa de Castiglione
Película," La Contesse Castiglione"
Postagem sobre: "Espelho meu: A Condessa de Castiglione"


domingo, maio 17, 2015

Haicai



verão na Maré
embaixo das palafitas
reflexos da lua









segunda-feira, maio 04, 2015

Van Gogh


Van Gogh

, dormem telhados
igreja 
asilos
sob carrossel de estrelas.
...

janela:
única luz –
mãos insones
na noite suspensa

na tela pesa
ventos vendavais
no balé das cores

da ausência







"Tudo passa — sofrimento, dor, sangue, fome, peste. A
espada também passará, mas as estrelas ainda permanecerão
quando as sombras de nossa presença e nossos feitos
se tiverem desvanecido da Terra. Não há homem que
não saiba disso. Por que então não voltamos nossos olhos
para as estrelas? Por quê?


(MIKHAIL BULGAKOV, O exército branco)


sábado, março 28, 2015

Saramalego


domingo, março 22, 2015

Os meus gatos (Adília Lopes)


Os meus gatos já deixaram há muito tempo de brincar com as minhas baratas. A Ofélia tem 12 anos, seis meses e sete dias. O Guizos, segundo o Dr. Morais, tem 9 anos. Entretanto gatos morreram, gatos desapareceram. Estou a escrever isto no computador e não sei do Guizos há três dias.  
















 
"Há sempre uma grande carga de violência, de dor, de seriedade e de santidade naquilo que escrevo" (Adília Lopes- poetisa portuguesa)




terça-feira, janeiro 20, 2015

Para Chico


Olá!
Recentemente, participei de um concurso de poesias cuja proposta era elaborar um poema, em homenagem  a Chico Buarque, inspirado em alguma canção referente às "mulheres de Chico". Então, escolhi "A Rita". Abaixo da letra, fiz o poema "Para Chico", o qual postei também a avaliação dada por Alfredo Fressia, Oscar Nakosato, Flávio Morgado e Jackes Fux.




















A Rita 
(Chico Buarque) 

A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
E arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel

A Rita matou nosso amor de vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão 

Para Chico 
(Simone Prado) 

, malas
echarpe  
são francisco
deixados  no chão

entrada –

aparente vazio
habita cômodos

meus passos
(sem pressa)

na sala
o rosto
o verde das íris
o dedilhar no violão
invisíveis

paredes
quarto –
terra estranha:
aqui a guerra
é mais longa

na mão o desejo infinito
sobre a maçaneta de ferro
envelhecido:

bastava um giro
um fechar a porta
virar as costas
e fazer vibrar as cordas
daquele mudo violão

Título: Para Chico (Simone Prado)

Alfredo Fressia: Mais um belo poema, criado sobre uma retórica da fragmentação, do implícito (e ainda o tema da conivência, colaboração do leitor). Se tudo isto não bastasse, o poema contém também uma joia, a saber, estes versos perfeitos: “na mão o desejo infinito/ sobre a maçaneta de ferro/ envelhecido:”. Muito bom.

Oscar Nakasato: O poema recupera o sentimento de ausência e solidão cantado por Chico Buarque. A vírgula no início do poema já parece indicar que a lista de “coisas” deixadas no chão se estende num movimento que vai para o antes de “malas”. Há uma confluência de elementos que indicam esse sentimento: os versos mínimos, o paradoxo “vazio habita cômodos”, passos sem pressa, invisíveis paredes, mudo violão. Os versos mínimos, aliás, centrados em substantivos, exploram eficazmente as lições do Cubismo e do Futurismo. Ao mesmo tempo, o poema proporciona uma ambiguidade: a porta é a entrada ou a saída?  

Flávio Morgado: O poema leva de forma interessante (na quebra dos versos e no seu “pé ante pé”) a uma narrativa singela, simples. Mas por que não? Merecedora de poema. Bom poema.

Jacques Fux: Quase uma nova canção. Embala e encanta. Bonito, certeiro e bem escrito.